17 de janeiro de 2013

Amado e Odiado Sr. Quiabo!

Ah o quiabo...depois que li este texto da Roberta Sudbrack não tive mais palavras para sequer descreve-lo. Segue o texto.
Quiabos me mordam!

Por Roberta Sudbrack

Falar de processo criativo para mim tem o mesmo efeito que emprestar escova de dente. Não gosto, não entendo e acho extremamente estranho. Francamente, me apavora a simples ideia de tentar explicar uma coisa dessas. Assim como me apavora a ideia de emprestar a minha escova de dente para alguém que não seja eu mesma.
Como explicar, por exemplo, a minha relação com as sementes de quiabo? Tão louca, mas tão louca, a ponto de sonhar com a utópica possibilidade de transformá-los em… Caviar? Como é que eu vou explicar que numa noite de lua cheia em Tiradentes, MG, enquanto comia um quiabo magnificamente preparado tudo isso aconteceu? De repente a sementinha do quiabo saiu correndo pelo meu prato. Imediatamente eu deixei as pessoas com quem estava jantando na mesa e me transportei para outro mundo. Um mundo onde quiabos falam com você, trocam ideias, fazem brainstorm, te interrogam e pior – ou melhor? – decidem o seu destino!
A história foi mais ou menos assim, tão logo adentrei esse mundo misterioso fui capturada, algemada e levada por alguns quiabos fortões ao encontro de um quiabo alto e formoso, aparentemente o líder. O local parecia um tribunal e estava repleto de quiabos de todas as procedências. O líder, aquele quiabo formoso, entrou e todos os outros se levantam. Ele fez um gesto de agradecimento, ordenou que todos sentassem e começasse a sabatina. Sabatina?
Primeira pergunta: “No seu mundo como nós somos preparados?”
Resposta: “Normalmente refogados ou ensopados!” Um silêncio toma conta do tribunal e todos suspiram: “oh…” O líder balança a cabeça e faz anotações. Segunda pergunta: “De que outra forma?” Resposta: “Bem existem uns malucos com eu que têm mania de grelhá-lo inteiro…” Aplausos e mais aplausos! Achei prudente apenas aceitá-los e não continuar, para que entrar no mérito do motivo pelo qual prefiro grelhá-los inteiros?
Mas eis que vem a terceira pergunta: “E o que fazem com a baba” Resposta firme: “Eliminamos!” Silêncio novamente no tribunal, o líder se ajeita na cadeira e os outros suspiram: “Ohhhhh…”
Claramente a situação não estava boa para o meu lado e na tentativa desesperada de retomar a confiança do grupo resolvo voltar à minha teoria: “Bem, eu e meus cozinheiros somos contra esse tipo de procedimento…” Nesse momento sou interrompida e aplaudida em cena aberta! Encho o peito de confiança e continuo: “Chegamos à conclusão de que a baba é na verdade uma gelatina natural. Gelatina essa que contém grandes quantidades de açúcar na sua composição…” Novamente aplausos efusivos tomam conta do tribunal e até um “uhuuu!” é ouvido ao longe. O líder chama o terceiro secretário, um quiabo bem sério e distinto e cochicha alguma coisa no seu ouvido. Observo com certa tensão, será que me excedi? Ultrapassei novamente algum limite? Qual será o meu fim? Alguns instantes depois dois quiabos com capes de guarda de trânsito se aproximam e me libertam das algemas sorrindo. O líder então diz: “prossiga.”
Respiro fundo e penso; o que tenho a perder? Na melhor das hipóteses serei grelhada viva como São Lourenzo o padroeiro dos cozinheiros, e, com sorte, depois de alguns milagres virarei santa e terei uma imagem no altar da minha própria cozinha. Na pior serei refogada ou ensopada com bastante água por vingança! Sigo em frente então: “Estudamos a composição do quiabo durante um ano na minha cozinha. No mundo de onde eu venho as pessoas costumam dizer que não gostam de quiabo justamente por causa da baba. Estávamos decididos a mudar essa história. Depois de muito estudo e pesquisas exaustivas conseguimos desenvolver um processo artesanal de concentração e aprisionamento dessa gelatina na própria semente do quiabo, o que chamamos de caviar vegetal.” Aplausos e mais aplausos efusivos! E muitos ‘uhuuus!” depois, o líder pede silêncio novamente e diz, agora ligeiramente sorridente: “Prossiga.”
Mais uma vez encho o peito de orgulho e prossigo: “Essa descoberta chamou a atenção do mundo gastronômico e eu e meus cozinheiros viajamos fazendo demonstrações e levando quiabos para a França, Espanha, Itália, Uruguai…” Nesse momento todos os quiabos se levantaram inclusive o líder, e aplaudiram emocionados. Alguns saltaram o cordão de isolamento e me carregaram nos braços até a praça, onde milhares de outros quiabos me esperavam eufóricos!”
Quando voltei para a mesa meus amigos me olhavam perplexos. Comi calmamente um pedaço do frango com quiabo e disse: “Eu avisei que processo criativo era algo muito íntimo!”


Também sempre tive uma estreita relação com o quiabo. Sua baba me encanta assim como sua crocancia quando cozido levemente....
Aqui vão algumas dicas para preparar este espécime amado e odiado, o Sr. Quiabo!


Escolha sempre os quiabos mais novos e verdinhos, eles são mais macios e também mais nutritivos.








Lave e não corte nem as pontas nem os cabinhos, mantenha-os inteiros. Reserve uma vasilha com água fria e gelo. Ferva bastante água em uma panela. Quando estiver fervendo, coloque os quiabos inteiros para cozinhar. Vá abaixando com o auxílio de uma espátula ou colher os quiabos que ficam na superfície da água fervente, pois se eles não estiverem completamente cobertos vão ficar com uma coloração mais escura, indesejada neste caso.
Depois de aproximadamente 3 minutos, esperimente a texturado quiabo, se já está cozido porém ainda firme e crocante. Retire da panela e imediatamente coloque no recipiente com a água bem gelada. Sirva como salada com o tempero de sua preferência ou utilize - o em outras preparações.






Um comentário:

  1. kkkkkkkkkkkkkkk. que viagem na maionese. ops no quiabo! Legal!

    ResponderExcluir